quinta-feira, 22 de abril de 2010

FAZENDO JUSTIÇA A AVATAR, UM WESTERN INCOMPREENDIDO - 5

CONCLUSÃO

Vimos que dizer que o filme é um amontoado de clichês não faz sentido, afinal Avatar traz convenções de um gênero, o Western e faz um uso significativo delas ao situar na posição de vilões aqueles tradicionalmente tidos como heróis. Essa construção engenhosa está a serviço de uma mensagem que, além da clara defesa de ideais ecológicos, condena a política da guerra como única saída para a solução de conflitos. Por conseguinte isso toca os próprios cidadãos norte-americanos e sua obsessão pelo direito de portar armas de fogo(legitimada, inclusive, pelo western), obsessão esta que tem raízes no individualismo protestante norte-americano. Portanto não dá para dizer que Avatar seja um daqueles filmes com “tudo já conhecemos no passado, sem acrescentar-lhes nada em complexidade”, ou seja, ele não é um amontoado de clichês.
Tirar o western de seu cenário tradicional não é novidade, Akira Kurosawa fez isso com Os Sete Samurais e George Lucas com seu Star Wars. A propósito, há que se notar um paralelismo entre o Darth Vader de Lucas (o pistoleiro violento desse western espacial), que é um homúnculo dentro de uma armadura a serviço de um sistema de regras inumano e os militares dentro das tanques de guerra humanóides que invadem Pandora e mesmo com a figura do Exterminador do Futuro, máquina travestida de homem.
Também não podemos esquecer que o filme apresenta um “happy end” agridoce. Vemos os terráqueos expulsos de Pandora, mas não destruídos. Nada é dito ou mostrado que comprove que eles desistiram e que não voltarão com força maior.
Quanto à maior fragilidade do filme, os personagens extremamente planos, podemos dizer que um alto grau de complexidade prejudicaria, por exemplo, a identificação do Coronel Quaritch com o monstro mitológico e,logo, a premissa do longa. O que no entanto não o exime de todo das críticas, basta retornar a “ET”e comparar os dois filmes ou a outros grandes Westerns como Rastros de Ódio ou O Homem que matou o Facínora, ambos de John Ford.
Não tem a estatura de uma obra-prima mas tampouco é ingênuo como apregoaram por aí. É,sim, mais um grande filme de James Cameron que merece ser revisto, afinal, retornando a Inácio Araújo:

“A riqueza de um bom filme consiste,portanto,na sua capacidade de assimilar o
gênero que pratica,oferecendo algo novo(mesmo que isso não se
dê,obrigatoriamente, de maneira ostensiva)” (ARAÚJO,2002,p.21)
BIBLIOGRAFIA

AUMONT, Jacques/ MARIE,Michel. Dicionário teórico e crítico de cinema. São Paulo: Papirus, 2003.

CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo:Ed Cultrix, 2005.

VERNANT, Jean Pierre. Mito e sociedade na grécia antiga. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006.


ARAÚJO, Inácio. Cinema: o mundo em movimento. São Paulo: Scipione, 2002 .

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