sexta-feira, 9 de abril de 2010

FAZENDO JUSTIÇA A AVATAR, UM WESTERN INCOMPREENDIDO - 4

OS PERSONAGENS


Como já foi apontado, muito se criticou os personagens planos, estereotipados de Avatar
Na verdade é característico do western privilegiar personagens planas, arquetípicas por que não trata da história de indivíduos, mas de uma nação. E assim é em Avatar, o que proporciona uma possibilidade de deslocar a atenção para as outras camadas do filme.
É comum no Western o grande criador de gados enviar seu pistoleiro violento para aterrorizar os agricultores(foi este papel que eternizou a figura de Jack Palance em “Os Brutos Também Amam, de 1952). No longa de James Cameron vemos uma expedição chefiada por um burocrata ganancioso e levada a cabo por um coronel assustador. Mas é o caso de se pensar nele não apenas como um clichê de militar malvado mas como alguém extremamente ególatra e egoísta, que busca destruir o outro para auto afirmar-se e que é incapaz de ver na grandeza de Pandora nada além de um adversário imponente, afinal este é um planeta cruel, que o encheu de cicatrizes. Ele não vai ao planeta para desmatar, mas para massacrar. Destruir a árvore sagrada, sob a qual está o tão cobiçado minério de seus chefes engravatados, é apenas a parte chata do trabalho. Ele, afinal, é o pistoleiro, não o fazendeiro desse western.
Diz Joseph Campbell em “O Herói de mil Faces”:

“A figura do monstro tirano é familiar às mitologias, tradições folclóricas, lendas e até pesadelos do mundo; e suas características, em todas as manifestações , são essencialmente as mesmas.Ele é o acumulador do benefício geral.É o monstro ávido pelos vorazes direitos do “meu e para mim”. A ruína que atrai para si é descrita na mitologia e nos contos de fadas como generalizada, alçando todo o seu domínio”
(CAMPBELL,2005, p.25)

Campbell tinha o defeito de ser um simplificador da mitologia, notório pela ausência de metodologia em seus trabalhos mas inegavelmente era um conhecedor de mitologia comparada, alguém capaz de descrever e traçar semelhanças e estruturas comuns aos mitos como ninguém.
Há uma clara identificação da figura do monstro, como a define Campbell, com a postura do militar e, como já vimos, da nação norte-americana. Basta trocar a pedra que está no subsolo de Pandora por petróleo e temos a invasão do Iraque. Aqui está o coração do filme, sua mensagem e ideologia afinal monstro mitológico Cameron identifica justamente com a nação norte americana e sua postura com relação ao resto do mundo, àqueles cujas culturas não conhecemos bem o suficiente para respeitar.
Campbell prossegue:

“Auto-aterrorizado; dominado pelo medo;alerta contra tudo, para enfrentar e combater as agressões de seu ambiente-que são, primariamente, reflexos dos incontroláveis dos impulsos de aquisição que se encontram em seu próprio íntimo”.
(CAMPBELL,2005, p.25)


Esse é o monstro primordial, esse é o coronel estereotipado, esse é George W.Bush.
continua

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