quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

RETROSPECTIVA

O ano novo inicia terrivelmente velho na faixa de Gaza. Em três dias morreram 60 civis palestinos, vitimados pela resposta israelense motivada pelos insistentes bombardeios do Hamas em direção à cidade de Sderot, a mais próxima de Gaza. Antes, porém, em junho, tanto Israel quanto o Hamas romperam o cessa-fogo. Como há dois meses não entram jornalistas em Gaza, vale voltar a “Palestina – Cidade Sitiada” e “Palestina- na Faixa de Gaza” obras do jornalista e quadrinista Joe Sacco. Postei texto sobre ambas HQs em agosto deste ano (Os Dois Lados da questão).
Com 2008 termina a Era Bush, período dos mais esquecíveis da história dos Estados Unidos, cujo momento mais emblemático foi a sapatada levada pelo Comandante em Chefe no Iraque, reveladora da completa desmoralização de sua administração. Com ele, perdem força os heróis truculentos que espelhavam com perfeição seu governo belicoso. A seguir, texto que escrevi sobre o seriado 24 Horas, num longínquo 2007 mas que mantém certa atualidade, não pelo que o liga ao moribundo governo George W. Bush, mas pelo Eterno Retorno da questão Palestina.
A QUESTÃO PALESTINA NÃO CABE NO MANIQUEÍSMO DE JACK BAUER

Nesta sexta temporada, 24 Horas não se preocupou em fazer de vilões aqueles que defenderam a “política do medo” de George W. Bush após os atentados de 11 de setembro. Mostrou os absurdos das prisões arbitrárias de cidadãos de descendência árabe e criticou o ataque militar a nações islâmicas como resposta a ações terroristas. “Nem todos nesses países estão a favor dos terroristas” nos lembra o assessor da presidência Tom Lennox.
Tudo muito elogiável. Elogiável até demais, afinal se trata de uma série de ação que reprisa a manjada oposição entre os EUA e o resto do mundo, sendo os EUA, claro, os mocinhos. Enxergar e desvelar a sujeira e os erros de seus governantes, então, não é pouca coisa.
No entanto, toda a complexidade utilizada no retrato da chamada “doutrina Bush” (reacionarismo de direita, tendência à supressão de direitos civis e belicismo histérico) desaparece quando se trata de compreender os terroristas islâmicos bem como as motivações desses grupos.
De início nos é mostrado que quem explodiu uma bomba nuclear em solo norte americano (ponto de partida da atual temporada) e ainda ameaça detonar mais quatro é o terrorista islâmico Abu Fayed. Dez anos atrás o vilão da série seria provavelmente um narcotraficante colombiano e, vinte, algum russo maluco vestindo um casaco cafona e um chapéu de pele de urso. Mas os tempos são outros.
Em oposição a Fayed está um ex-terrorista, Hamri Al Assad, que abdicou da luta armada e quer um acordo de paz com os EUA. Para isso ele se aliará a Jack Bauer na busca por Fayed, que não aceita o cessar fogo proposto por Assad e se põe a sabotá-lo. A simplificação é de assustar. Ao colocar Assad no lado dos mocinhos, entendemos que o terrorista “bom”é o que, unilateralmente, abandonou a luta armada, numa mensagem de que é pela via da negociação que as coisas devem ser feitas, não pela luta suja e assassina de Fayed (que é apenas uma alegoria para Osama Bin Laden). Dito assim, ninguém há de discordar. Mas e Jack Bauer, por acaso ele não mata e tortura também? Apenas quando não há outra alternativa , nos diz a série, quando há um “bom motivo”. Já os terroristas só usam de agressão por que são incapazes de enxergar a tal outra alternativa, a da negociação pacífica. Curioso, não? Pois então, Assad acaba morto por radicais de direita norte-americanos , golpistas que querem o poder por vias outras que não a da democracia(algo impensável para qualquer norte americano), o que põe ainda mais em risco o processo de paz.
Mesmo sendo Fayed uma representação de Bin Laden, também podemos identificar em sua luta com Assad os dois lados claramente distinto da Palestina atual, na qual os EUA de Jack Bauer estão diretamente envolvidos. O “Fayed”de lá é o grupo islâmico que não abdica da luta armada, o Hamas. Já o Fatah é partido árabe que não age em nome da religião e que busca diálogo com o ocidente, ou seja o “Assad” da questão . Os EUA e Israel nunca economizaram armas nem dólares para fortalecer o Fatah na Palestina, mas mesmo assim, talvez pelas várias acusações de corrupção e de submissão a interesses estrangeiros, o Fatah foi perdendo prestígio até que a maioria do Parlamento acabou ficando com o Hamas. Recentemente o governo de coalizão entre os dois acabou de vez, quando o Hamas expulsou o Fatah da faixa de Gaza. EUA e Israel entraram em polvorosa e, sob o argumento de que o único líder legítimo eleito democraticamente era Mahmoud Abas, do Fatah,deram início a um embargo econômico a Gaza.
E ai temos a seguinte situação: um partido que tem maioria num Parlamento eleito democraticamente pelo povo palestino não só não é reconhecido pelos EUA como legítimo, como sofre sanções econômicas e repressão militar. Onde está, então, a opção pelo diálogo? Cadê a deposição das armas que eles tanto pedem aos “terroristas”? Parece que, no fim das contas, virar a cara para a via da negociação pacífica não é privilégio de extremistas islâmicos...
Mas façamos justiça à série. Alguns episódios mais tarde, ficamos sabendo que na verdade quem arquitetou o plano de explodir a bomba nuclear na terra do Tio Sam fora, na verdade, um russo maluco vestido num casco cafona, Vladmir Gredenko. Seu motivo? Ele se ressentia da vitória dos EUA na Guerra Fria... Esse sim merece levar uns tapas de Jack Bauer !

5 comentários:

Anônimo disse...

tudo começou com o maledeto do brasileiro que definiu pela criação do estado de israel ha 60 anos atrás, só pra fazer as vontadinhas da NWO, o que veio depois... só bosta. triste e totalmente injustificavel.

Anônimo disse...

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