segunda-feira, 6 de outubro de 2008

LINHA DE PASSE - O VERDADEIRO JOGO DA VIDA

Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas, tem uma virtude rara: não é preconceituoso. Sabemos bem que cinema é feito para uma elite que pode pagar R$ 15,00 para ver um filme. E, quase sempre quem escreve e dirige (para a TV, inclusive)pertence a um grupo ainda mais restrito, ou seja, de conta bancária beeem gorda. Então o que vemos com uma freqüência assustadora na representação audiovisual é a repetição das mesmas idéias pré concebidas. Repare num comercial de TV que se passa dentro de um ônibus e você verá que ninguém ali se parece realmente usuários de transporte público. Esse pessoal quase sempre retrata a si mesmo e, quando não o faz, nos mostra o que eles acham dos Outros, os “pobres”(o que quer que eles entendam por isso).
Linha de Passe é, então, uma exceção. Lá os protestantes não são nem desonestos nem fanáticos idiotas, como não são também os torcedores que vão a estádios de futebol (numa bela sequência,logo no início, vemos que a fé os une), o futebol não é um mundo mágico de encanto, mas sim o lugar onde se faz todo tipo de falcatruas, de forjar identidade falsa à vender vaga na equipe. Os tais “pobres” (qualquer pessoa que não more em áreas nobres de São Paulo ou na zona sul carioca) não são criaturas disfuncionais, grotescas (como na maioria dos filmes) nem ingênuos bondosos e quase cômicos(como em 100% das telenovelas).
E o ônibus não é um lugar onde criaturas esquecidas por Deus sofrem o pão que o diabo amassou de cada dia,mas uma metáfora de liberdade, movimento , que a grande idéia por trás do filme, “seguir em frente”. Bem diferente, vale notar do keep walking da propaganda de Whisky ou do caminhar dos vitoriosos economicamente da propaganda da Nextel. Em linha de passe o que temos é muito mais próximo do conselho tradicional em horas difíceis: bola pra frente.

!!!

Linha de Passe, paradoxalmente, fica completamente fora do alcance das pessoas nele retratadas. Se o públio que pode pagar R$16,00 num ingresso de cinema de shopping Center, que dirá daquele que pode se deslocar à avenida paulista para ver o filme?
Mesmo com Sandra Corvelloni tendo recebido prêmio de melhor atriz em Cannes.

Um comentário:

Unknown disse...

pois é, assisto em dvd