Na sua coluna no site omelete
(http://www.omelete.com.br/conteudo_colunas.aspxid=100014953&secao=colunas) Érico Borgo , ao resenhar a HQ encadernada Batman por Neil Adams -vol.1, lançada este mês pela Panini fez duas afirmações bastante interessantes. A primeira foi :
“Na série, Adams começou a experimentar os limites da arte seqüencial. Aos poucos, foi deixando de lado o engessamento dos quadros e passou a explorar o dinamismo que o meio tornava possível”
Incontestável. Dá para ver isso na primeira figura, onde há um claro “desrespeito”para com os quadros e o próprio espaço entre eles passa a compor a cena, que ganha assim enorme expressividade.
A outra afirmação faz referência à uma das mais conceituadas editoras de livros de arte, a Taschen:
“Não fossem tais personagens propriedade da DC, creio que veríamos coleções da elegante Taschen dedicadas a criadores como Neal Adams”.
Analisar a questão é complexo, envolve um mergulho em teorias da arte, terreno em que existe pouquíssima unanimidade. Seria preciso estabelecer um critério para o que é arte e assim dizer se seu desenhos, desvinculados das histórias, teriam valor de “grande arte”(taí outro conceito espinhoso) a fim de figurar ao lado de catálogos de pintores como Michelangelo ou Matisse. Uma aproximação mais obvia e tentadora seria com a Pop Art. E,já que falamos da Taschen, vamos a ela, mais propriamente ao livro Pop Art, deTilman Osterworld:
“A trama estereotipada opõe uma retenção impessoal de criatividade. É assim que se manifesta claramente a contradição entre a emoção pessoal e a emoção anônima”.
Osterworld fala sobre toda a Pop, mas mais especificamente sobre Roy Lichteinstein, que reconstruía imagens extraída de histórias em quadrinhos em suas gravuras. O essencial na Pop é a impessoalidade (um conceito que nasce com Marcel Duchamp) expressa nas figuras da sociedade de massas, os quadrinhos, a publicidade e por aí vai. Não seria então sob o rótulo de Pop Art que os desenhos de Neil Adams, figurariam (fosse o caso) num livro da Taschen.
Isto tudo pode parecer bobagem, mas o caso é que os quadrinhos, entendidos Omo ate, precisam ser encarados não só como desenho, mas também como narrativa. Entendê-los só como desenho seria o equivalente a ver atributos artísticos no cinema somente através da figura estática (o fotograma), uma imagem pausada. No livro “A Estética do Filme”(Ed.Papirus), Michel Marrie fala que “a fim de provar que o cinema era de fato uma arte, era preciso dotá-lo de uma linguagem específica, diferente da linguagem da literatura e do teatro” a fim de mostrar todo o problema que envolve reconhecer uma “linguagem” ou uma “gramática” do cinema, que é um dos caminhos para reconhecer seu atributo artístico.
Portanto, se levarmos em conta só os desenhos de Neil Adams, teríamos de abandonar todo ritério para o qual os quadrinhos são reconhecidos (com boa dose de má vontade) Omo a Nona Arte.
Bom, tudo isso para retornar à pergunta: o trabalho de Adams cabe num livro da Taschen ou, é Arte por si só, livre da estética dos quadrinhos?
Não vou me aventurar a responder agora (antes, estudarei melhor o tema), mas se a editora lançasse um livro destes eu o compraria com certeza. A força da segunda figura fala por si só.
!!!
“Existe, todavia, uma maneira radical de superar a heterogeneidade da linguagem crítica e da linguagem objeto de análise(o filme).Consiste na utilização do próprio filme como suporte de análise do cinema:o cinema didático não tem qualquer dificuldade em citar extratos de outros filmes,basta-lhe reproduzi-los,como faz uma análise crítica que cita um texto literário” – diz Marrie no livro já citado. Trazendo a coisa para os quadrinhos, dois autores fizeram o equivalente, ou seja, discorrer sobre a linguagem das HQs , seus limites e possibilidades utilizando o próprio meio,ou seja, uma HQ. Um deles é Scott McCloud, no livro Desvendando os Qudrinhos (M. Books). O outro é o brasileiro Jozz em O Circo de Luca(Devir), premiado como artista revelação no último HQMix.
“Na série, Adams começou a experimentar os limites da arte seqüencial. Aos poucos, foi deixando de lado o engessamento dos quadros e passou a explorar o dinamismo que o meio tornava possível”
Incontestável. Dá para ver isso na primeira figura, onde há um claro “desrespeito”para com os quadros e o próprio espaço entre eles passa a compor a cena, que ganha assim enorme expressividade.
A outra afirmação faz referência à uma das mais conceituadas editoras de livros de arte, a Taschen:
“Não fossem tais personagens propriedade da DC, creio que veríamos coleções da elegante Taschen dedicadas a criadores como Neal Adams”.
Analisar a questão é complexo, envolve um mergulho em teorias da arte, terreno em que existe pouquíssima unanimidade. Seria preciso estabelecer um critério para o que é arte e assim dizer se seu desenhos, desvinculados das histórias, teriam valor de “grande arte”(taí outro conceito espinhoso) a fim de figurar ao lado de catálogos de pintores como Michelangelo ou Matisse. Uma aproximação mais obvia e tentadora seria com a Pop Art. E,já que falamos da Taschen, vamos a ela, mais propriamente ao livro Pop Art, deTilman Osterworld:
“A trama estereotipada opõe uma retenção impessoal de criatividade. É assim que se manifesta claramente a contradição entre a emoção pessoal e a emoção anônima”.
Osterworld fala sobre toda a Pop, mas mais especificamente sobre Roy Lichteinstein, que reconstruía imagens extraída de histórias em quadrinhos em suas gravuras. O essencial na Pop é a impessoalidade (um conceito que nasce com Marcel Duchamp) expressa nas figuras da sociedade de massas, os quadrinhos, a publicidade e por aí vai. Não seria então sob o rótulo de Pop Art que os desenhos de Neil Adams, figurariam (fosse o caso) num livro da Taschen.
Isto tudo pode parecer bobagem, mas o caso é que os quadrinhos, entendidos Omo ate, precisam ser encarados não só como desenho, mas também como narrativa. Entendê-los só como desenho seria o equivalente a ver atributos artísticos no cinema somente através da figura estática (o fotograma), uma imagem pausada. No livro “A Estética do Filme”(Ed.Papirus), Michel Marrie fala que “a fim de provar que o cinema era de fato uma arte, era preciso dotá-lo de uma linguagem específica, diferente da linguagem da literatura e do teatro” a fim de mostrar todo o problema que envolve reconhecer uma “linguagem” ou uma “gramática” do cinema, que é um dos caminhos para reconhecer seu atributo artístico.
Portanto, se levarmos em conta só os desenhos de Neil Adams, teríamos de abandonar todo ritério para o qual os quadrinhos são reconhecidos (com boa dose de má vontade) Omo a Nona Arte.
Bom, tudo isso para retornar à pergunta: o trabalho de Adams cabe num livro da Taschen ou, é Arte por si só, livre da estética dos quadrinhos?
Não vou me aventurar a responder agora (antes, estudarei melhor o tema), mas se a editora lançasse um livro destes eu o compraria com certeza. A força da segunda figura fala por si só.
!!!
“Existe, todavia, uma maneira radical de superar a heterogeneidade da linguagem crítica e da linguagem objeto de análise(o filme).Consiste na utilização do próprio filme como suporte de análise do cinema:o cinema didático não tem qualquer dificuldade em citar extratos de outros filmes,basta-lhe reproduzi-los,como faz uma análise crítica que cita um texto literário” – diz Marrie no livro já citado. Trazendo a coisa para os quadrinhos, dois autores fizeram o equivalente, ou seja, discorrer sobre a linguagem das HQs , seus limites e possibilidades utilizando o próprio meio,ou seja, uma HQ. Um deles é Scott McCloud, no livro Desvendando os Qudrinhos (M. Books). O outro é o brasileiro Jozz em O Circo de Luca(Devir), premiado como artista revelação no último HQMix.
Um comentário:
existe um certo ranço ( nao virei o professor de historia ainda) burguês que insiste em delimitar arte menor de arte menor. Como se cultura popular fosse de alguma forma menos do que entendemos como arte nobre, por assim dizer. Comparando , o que difere um cordel de um Patativa do \Assaré de um poema de Drummond por exemplo, aos olhos de quem só busca a densidade das coisas , nada... mas aos olhos de alguem interessado em classificar coisas no nivel tatibitati de feio/bonito/nobre/exotico , os cordeis são sempre peças menores....
Partindo deste principio, porque nao encaixar HQS num plano de arte de livros da Taschen? O que difere o puro desespero de obras como a Piada Mortal de um grande clássico do suspense de Poe? Nada....
P.S: os livros da taschen são fodalhoes, cito o Dali - obra completa como base, hehe
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