segunda-feira, 13 de junho de 2011

FILMES " BARROCOS " (Atualizado)

Diz-se que o horror italiano é barroco ou que tal e tal cineasta é barroco. Com toda imprecisão que a definição ganha ao ser tirada de seu contexto original(pintura,escultura e arquitetura- e sobre isso já tratamos aqui neste blog ) pode –se dizer que barroco, no cinema, é um

termo que conota o bizarro,a complicação ou a estranheza, é utilizado para designar uma arte muito ornamentada,extravagante,sofisticada,com preciosismos
(AUMONT,MARIE, pg31).

De todo modo é interessante forçar as fronteiras só para ver o alcance e a limitação do termo.

O filósofo Heinrich Wölfflin, no início do século 20, procurou estabelecer uma metodologia que permitisse estabelecer categorias capazes de caracterizar a arte e,assim, definir os estilos artísticos. Para o alemão existiriam pares de conceitos opostos, um caracterizando a pintura renascentista, outro a barroca. Seriam eles:

Linear em oposição a pinturesco, planar em oposição a recessional , forma aberta sendo o oposto de forma fechada e,por fim, multiplicidade diferindo de unidade.

As pinturas Renascentistas,para Wölfflin, seriam lineares (os contornos das figuras são perfeitamente delineados e elas recebem luz de maneira uniforme),planares(os planos de profundidade são paralelos), fechadas(a composição é equilibrada, com figuras secundárias ou cenário “fechando” o quadro em torno da figura principal) e unidas(essa categoria se refere à maneira como cada elemento parece isolado pela luz, tendo sua cor própria, independente da influência de outros elementos).


ESCOLA DE ATENAS(1509-1511) Rafael, afresco na Stanza della Segnatura,Vaticano.

Uma pintura barroca, em oposição, teria os contornos das figuras obscurecidos pelo jogo de luz e sombra(as pinceladas mais ágeis), as figuras não em planos paralelos, mas numa profundidade dada por linhas diagonais, portanto não contidas dentro do próprio quadro por nenhum elemento e cujas cores se misturam, de uma figura para outra, de uma parte a outra da mesma figura.



Seria ingenuidade tentar transferir um a um os conceitos de Wölfflin para o cinema,mas é interessante notar que,pelo menos, uma das características presentes em “Suspiria” e “Máscara do Demônio” é correspondente : o uso da perspectiva em diagonal.

A “sofisticação” a que se refere Aumont é aquela que já discutimos aqui (ver postagens sobre o "Rococó") e que claramente está presente no cinema de Bava e Argento na forma de elementos de cena que muitas vezes são lançados para o primeiro plano, indo além da construção de cena comum, em que os atores estariam em primeiro plano e o restante seria meramente descritivo (para sabermos que aquilo é uma floresta e que as pessoas envolvidas são monges). Aqui o conjunto ganha em expressividade(não vamos falar em “expressionismo” pra não complicar de vez as coisas) e dramaticidade. Dramaticidade, aliás, conseguida também por meio do violento jogo de luz e sombra “caravagesco”. Mas , é bom sempre repetir, não da par ser sistemático quanto a  isso: são apenas aproximações possíveis.

                                          Rembrandt: A ronda noturna(1642)

Apenas para que o leitor não fique alheio: Como maneira de se definir o barroco, ou mesmo de procurar um meio de explicar o que define um estilo artístico, a análise de Wölflin, apesar de criteriosa e instigante, é considerada ultrapassada porque

permite uma análise sistemática do próprio produto artístico que se limita à sua descrição,compreensão e explicação,sem considerar a expressão de juizos de valor:fornece o método para reconhecer o mecanismo e o código de cada poética, excluindo a interpretação valorativa e intuitiva da obra de arte,inclusive o recurso análise extra textuais,como baseadas em documentos históricos

(CALABRESE,1987,24)

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

AUMONT, Jacques/ MARIE,Michel. Dicionário teórico e crítico de cinema. São Paulo: Papirus,2003.

AUMONT, Jaques. O olho interminável (cinema e pintura).São Paulo: Cosac Naify,2004.

CALABRESE, Omar. A linguagem da arte. São Paulo: Globo,1987.

WOODFORD, Suzan. A arte de ver a arte. São Paulo:  Circulo do Livro, 1983

Sobre Dario Argento , Suspiria e Mario Bava (fontes digitais)


Os esqueletos da imagem: o enigma do espaço em Dario Argento, por Jean-Baptiste Thoret ( Tradução: Luiz Soares Júnior). Disponível em:
http://dicionariosdecinema.blogspot.com/2011/02/o-esqueleto-da-imagem-o-enigma-do.html

Dario Argento- by Xavier Mendik. Revista digital "Senses of Cinema". Disponível em:
http://www.sensesofcinema.com/2003/great-directors/argento/

Kinoeye - new perspective on european films - edição especial Dario Argento. Disponível em:
http://www.kinoeye.org/index_02_11.php

Mario Bava’s Black Sunday aka The Mask of Satan By Christopher J. Jarmick. Disponível em:
http://www.sensesofcinema.com/2003/cteq/black_sunday/

























AUMONT, Jaques. O olho interminável (cinema e pintura).São Paulo: Cosac Naify,2004.

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