segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O GALHOFEIRO E A INDECÊNCIA DA IMAGEM



É corriqueiro nos programas policiais julgamento moral sobre o que é exibido. O apresentador se mostra indignado e faz o papel do justiceiro, como quem cobra uma providência “das autoridades” para que essa “barbaridade” tenha fim. Aí, antes de tudo está embutida uma mentalidade bem brasileira, de que um decreto, uma lei resolve tudo, típica de um país que viveu sempre ou sob o comando de uma monarquia (seja como colônia ou país independente) ou sob o jugo de governos autoritários, não eleitos pelo povo. O “tenho dito” do governante” é a solução final, feita, não raro, na base da pancada. Sociologismos à parte, o que interessa a esse texto é outra coisa: a mentira descarada desses programas. Que os produtores, diretores e apresentadores acreditam na “força” (no sentido mais amplo possível, do braço de ferro mesmo) da lei, é indiscutível, mas que eles pouco se lixam para a solução dos problemas apresentados, também.

Algumas postagens atrás tratei do significado das imagens usando como exemplo grandes cineastas. Resumindo: imagem tem um sentido conotativo(principalmente a jornalística);o que o cinema faz é, articulando-as, criar novos sentidos.

Agora, ao mau exemplo: O SP Record mostrou semana passada imagens da  batida de uma perua escolar, não me lembro se em outra perua ou um veículo de passeio. A chamada era “pessoas agridem motorista de perua escolar”. Uma menininha de uns quatro ou cinco anos saía da perua chorando, com a boca sangrando. Alguma pessoas partiam para cima do motorista. E a equipe de TV lá filmando(equipe ou câmera amadora, não sei).
Enfim, tudo não durou mais do que 30 segundos, mas, enquanto Gottino falava e falava, a imagem imagem da menina sangrando e do motorista apanhando ia e voltava, foi explorada ao limite. É quase um leit motiv, (recurso cinametográfico da repetição usado para enfatizar ou dar ritmo) que não tem outra intenção a não ser provocar no espectador a emoção indignada que o apresentador traz na voz, indignação essa que o material gravado, na duração original, não provocaria.

A destruição do sentido original daimagem para criar outra coisa e, a partir dela, construir todo um discurso adequado com o mundo cão, apocalíptico, que o programa explora e de que precisa para existir, para que o apresentador pareça necessário, alguém que ajuda as pessoas em perigo.

 

No mesmo dia outra "reportagem" (exibida originalmente pela versão carioca d programa apresenetada por Wagner Montes e onde o caráter de circo é  mais acentuado) falava sobre a "polêmica" em torno de uma professora que havia sido repreendida ou algo assim por usar roupas insinuantes demais em sala  de aula. O tom da matéria, lógico, era de condenação à postura da mulher, no entanto aparecia a professora enfiada num decote meio absurdo, ela provando as roupas que provocaram a tal “polêmica” e fazendo a  dança do ventre(?!).Eram duas ou três imagens só, mas que se repetiam indefinidamente.

 Ou seja, você condena, mas oferece aquilo como deleite ao espectador, explora e lucra com aquilo. Logo, fica claro que, para enriquecer, eles precisam disso que tanto condenam .
Pouca coisa pode ser tão indecente e imoral quanto a conduta desses moralistas.


PS. Pelo tempo cada vez mais escasso, este blog anda meio abandonado, pelo que peço desculpas ao leitor. Tentarei aumentar a frequência das postagens.


2 comentários:

Mário disse...

é a noticia reduzida a um mero espetaculo coisa que nao é mesmo.

Mário disse...

é a noticia reduzida a um mero espetaculo coisa que nao é mesmo.