segunda-feira, 29 de novembro de 2010

NOTÍCIAS DE UMA GUERRA PARTICULAR



Era uma operação militar, mas parecia final de Copa do Mundo. Sai que é sua, BOPE ! 
Para a Record, o  Rio de Janeiro voltava "a ser a cidade maravilhosa",para a Globo, era um "dia histórico" .Teve até  missa no Cristo Redentor.  Em ambos os canais (nem vou citar Datena por que ele não merece ser lembrado) anunciava-se algo como uma nova era, onde o "cidadão comum"(existe isso?) poderia voltar a andar tranquilo pelas ruas. Um dos "heróis do BOPE" chegou a dizer no Faantástico que os roubos de carros, sequestros e assaltos  a bancos terminariam, uma vez que os traficantes tinha sido vencidos. Podia até ter assoviado "Imagine" pra ficar mais  bonitinho...

A quem interessa esse tipo de abordagem? Sinceramente não sei, uma vez que isso acaba sendo triunfo capitalizado por Sérgio Cabral e pelo governo Federal, de quem a Globo não gosta nada. Talvez seja um tanto de ingenuidade, costume de enquadrar a realidade nos moldes da ficção, no caso Tropa de Elite com final de novela(só faltou casamento).
Um repórter do Fantástico fala que os traficantes haviam tentado fugir se passando por moradores, mas que a polícia os  pegara. E exibiu um rapaz preso  com a "prova" de sua ligação com o tráfico: no braço, uma tatuagem de uma índia (dessas genéricas) e a inscrição "Fernandinho Beira-Mar". Ora , prende-se alguém por uma tatuagem?

Ele poderia ter mencionado que não e que o rapaz em poucas horas provavelmente seria  liberado,caso não fosse constatada alguma prova de verdade.
Sim, foi um fato significativo e importante até porque no Rio o tráfico era dono de territórios onde a polícia não entrava a não ser aqueles que vendiam armas e munições aos traficantes. A Lei lá eraa a deles e ponto.  Mas agora, só agora, prende-se a mulher do bandido por que ela mora num condomínio de luxo sem ter renda para tal, o advogado do bandido porque levava ordens de dentro para fora da cadeia, os soldados do bandido por sei lá o que e por aí vai. Quer dizer, que diabos de serviço de inteligência é esse que por anos nunca funcionou e agora, de um estalido teve esse rampante de eficiência? A Globo não diz.

Ora, é sabido que o tráfico funconava bem por que rendia dinheiro para todos os setores da sociedade, inclusive para a classe média que só pede paz quando um branco rico morre assassinado  e que não vê problema na polícia corrupta,desde que ela relaxe flagrantes de quem dirige embriagado, atropela e mata, de que não jogue o filho de paai ruico numa cela comum, essas coisas. Lucrava a banda podre da polícia, o juiz , o advogado, o político e todo mundo que fazia vista grossa ao crime por dinheiro.
 Só que a  galera abusou, passou dos limites, tocou o terror, se sentiu não dona do morro, mas do asfalto também. E tem Copa e Olimpíada chegando então...a casa caiu  ! 
E tem as UPPs que, ao que dizem os jornalistas, parecem mais enviadas pelo próprio Cristo. Ora, vamos pensar: quantas toneladas de droga foram apreendidas? Quantas  refinarias desativadas?
E quantos  consumidores ficaram na mão? Os traficantes  que restaram vão ter um lucro absurdo porque,como o tráfico é a parte mais selvagem do sistema capitalista,  o preço da droga vai lá pra cima. Pode-se bem enriquecer fácil e rápido. Pode-se trazer droga, pessoal e equipamentos de São Paulo, ou tomaar uma grana emprestada com eles.  Ou podem vir eles mesmo. Vamos  dizer que a empresa que detinha o monopólio no Rio faliu e os concorrentes chegarão em breve. E, com dinheiro, faz-se o que sempre se fez, inclusive corromper a polícia que patrulha o morro.

O crime não acaba. Vai,certamente, ser menos ostensivo do que  era , talvez seja mesmo bem menor e mais fraco  (algo que já  aconteceu na Itália e em Nova Iorque, por exemplo) mas vai continuar existindo e lucrando muito.
Não acredidem nessa Era de Aquário da Globo, ela só existe em novela.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ELES FAZEM JORNALISMO?

O propósito do jornalismo é a "difusão objetiva dos fatos através da informação e interpretação  dos acontecimentos  que são notícia".O jornalismo(ou as ações jornalísticas) deve ser guiado por um "princípio ético universal". Deve também assegurar a todo indivíduo o direito de ser informado.

propósito da publicidade é a "difusão de idéias pela via da sugestão emocional para coagir sobre o receptor".  Deve servir e ffazer valer os objetivos da organização a que representa. Por sugestão emocional entender apelo ao imaginário e ao inconsciente.

Ass citações são de um livro de teoria da comunicação e jornalismo cujo nome e autor  eu, desastrosamente, perdi.  Mas são literais,garanto.

Para quem não é familirizado com o termo, "receptor" é parte do jargão da linguística, da semiótica e das teorias da comnicação em geral que designa, grosso modo, aquele que recebe a mensagem, que  pode ser uma frase dita, um programa de tv, um filme e por aí vai. È aquele esquema : emissor-meio-mensagem-receptor.
Abro um parêntesis para retomar rapidamente as  postagens anteriores: a noção de receptor se aplicaria ás artes em geral, esta é a visão da semiótica, que se empenhou em desenvolver maneiras de se interpretar a arte.fecha parêntesis.

Pode-se critiocar o autor pela ênfase na idéia algo kantiana de "princípio ético universal" e da noção utópica de "objetividade" no jornalismo, todos conceitos de certa forma  ultrapassados, ou,pelo menos, relativizados.
No entanto chega a ser didático pegar essas definições e aplicá-las à descrição de duas reportagens exibidas pelo SP Record, de Reynaldo Gottino, que têm objetivos bem claros. Ou uma "intenção".

Mais definições do autor:
Inteção: execução de um fazer (ela controla conscientemente a ação)
Propósito: É a função que um fazer pode ter.

E  aí eu pergunto; é jornalismo o que eles fazem?

***

Como já  adiantara o Mario Cesar nos comentários da postagem anterior, é um verdadeiro show. Ou showrnalismo,pra usar um termo criad pelo jornalista José Arbex Jr e que deu nome a um livro de sua autoria  que tratava de boa parte da midia jornalística. Acrescento que,além de show, além de uma publicidade feita para endossar a idéia de um mudo em colapso onde o jornalista-justiceiro é necessário, nesse caso em particular é um show de grand guignol, o teatro popularesco do século 19 onde o público ia para assistir perfeitas encenações de corpos mutilados, violêncioa extrema e muito sangue.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O GALHOFEIRO E A INDECÊNCIA DA IMAGEM



É corriqueiro nos programas policiais julgamento moral sobre o que é exibido. O apresentador se mostra indignado e faz o papel do justiceiro, como quem cobra uma providência “das autoridades” para que essa “barbaridade” tenha fim. Aí, antes de tudo está embutida uma mentalidade bem brasileira, de que um decreto, uma lei resolve tudo, típica de um país que viveu sempre ou sob o comando de uma monarquia (seja como colônia ou país independente) ou sob o jugo de governos autoritários, não eleitos pelo povo. O “tenho dito” do governante” é a solução final, feita, não raro, na base da pancada. Sociologismos à parte, o que interessa a esse texto é outra coisa: a mentira descarada desses programas. Que os produtores, diretores e apresentadores acreditam na “força” (no sentido mais amplo possível, do braço de ferro mesmo) da lei, é indiscutível, mas que eles pouco se lixam para a solução dos problemas apresentados, também.

Algumas postagens atrás tratei do significado das imagens usando como exemplo grandes cineastas. Resumindo: imagem tem um sentido conotativo(principalmente a jornalística);o que o cinema faz é, articulando-as, criar novos sentidos.

Agora, ao mau exemplo: O SP Record mostrou semana passada imagens da  batida de uma perua escolar, não me lembro se em outra perua ou um veículo de passeio. A chamada era “pessoas agridem motorista de perua escolar”. Uma menininha de uns quatro ou cinco anos saía da perua chorando, com a boca sangrando. Alguma pessoas partiam para cima do motorista. E a equipe de TV lá filmando(equipe ou câmera amadora, não sei).
Enfim, tudo não durou mais do que 30 segundos, mas, enquanto Gottino falava e falava, a imagem imagem da menina sangrando e do motorista apanhando ia e voltava, foi explorada ao limite. É quase um leit motiv, (recurso cinametográfico da repetição usado para enfatizar ou dar ritmo) que não tem outra intenção a não ser provocar no espectador a emoção indignada que o apresentador traz na voz, indignação essa que o material gravado, na duração original, não provocaria.

A destruição do sentido original daimagem para criar outra coisa e, a partir dela, construir todo um discurso adequado com o mundo cão, apocalíptico, que o programa explora e de que precisa para existir, para que o apresentador pareça necessário, alguém que ajuda as pessoas em perigo.

 

No mesmo dia outra "reportagem" (exibida originalmente pela versão carioca d programa apresenetada por Wagner Montes e onde o caráter de circo é  mais acentuado) falava sobre a "polêmica" em torno de uma professora que havia sido repreendida ou algo assim por usar roupas insinuantes demais em sala  de aula. O tom da matéria, lógico, era de condenação à postura da mulher, no entanto aparecia a professora enfiada num decote meio absurdo, ela provando as roupas que provocaram a tal “polêmica” e fazendo a  dança do ventre(?!).Eram duas ou três imagens só, mas que se repetiam indefinidamente.

 Ou seja, você condena, mas oferece aquilo como deleite ao espectador, explora e lucra com aquilo. Logo, fica claro que, para enriquecer, eles precisam disso que tanto condenam .
Pouca coisa pode ser tão indecente e imoral quanto a conduta desses moralistas.


PS. Pelo tempo cada vez mais escasso, este blog anda meio abandonado, pelo que peço desculpas ao leitor. Tentarei aumentar a frequência das postagens.


quinta-feira, 11 de novembro de 2010


Terminada a Mostra Internacional de Cinema, voltemos às artes visuais.  Retomo do ponto em que parei, quando falava sobre o quanto  a relação entre arte e linguagem sempre foi problemática.

Que a arte “comunica” algo niguém nunca duvidou. O problema era saber “ler” a obra de arte,ou, ainda, estabelecer uma “gramática”, buscando leis e unidades mínimas que, bem entendidas e respeitadas, poderiam permitir a “leitura” de qualquer obra. Ou, em outras palavras, traduzir o significado da imagem num discurso.

Um após outro os teóricos davam com os burros n`água. Suzanne Langer(a última teórica que citei) explicava essa dificulade dizedo que a arte tem um “modo peculiar de falar”- (notar como a palavra “falar’ remete ao discurso, a lingüística, à gramática). Para ela, a arte não funcionaria como linguagem por que lidaria com “sentimentos”(para ela, ambíguos, plurais) e não com “pensamento”(objetivo). Hoje sabemos que nem o pensamento é tão objetivo assim como a arte ´sim uma forma de pensamento, um discurso sobre a realidade.

Está achando isso tudo muito teórico? Então dê um pulo no CCBB-SP confira a exposição I In U (eu em Tu), retrospectiva de 40 da artista Laurie Anderson composta de instalações, desenhos, fotografias, vídeos , música, documentação de performaces e filmes.

Na obra de Anderson “algo que parecia ser objeto é discurso e o discurso é a essência de seu objeto” diz Marcello Dantas, no folder da exposição.
O nome original dá melhor dica  do que sua tradução, afinal são duas letras que,pela sonoridade, significam palavras (I, U, eu, você). Ou : as unidades mínimas da linguagem que, agrupadas formam palavras, estabelecendo uma comunicação. E você irá percber com ela articula palvras e imagens, embaralha-as, dança com elas, criando e recriando significados.

Uma das obras é um livro que conta a história de coisas que tinha sdo roubadas de sua casa num assalto. Folha branco, na próxima só um palavra de um objeto(que nos remete à imagem dele). Em seguida, uma reproduçãode uma gravura (se não me engano, de Rubens), com um objeto da cena destav=cado em vermelho. Temos em nossa cabeça o significado da imagem, mas ela entra em conlfito com a a palvra escrita antes. Significante e significado em rota de colisão e recriando um ao outro.

Outra caracaterística da artista é contar histórias, narrar,de uma maneira quase ancestral, tocando mais no mistério(aquele algo que não se consegue explicar em palavras) mais do que na narrativa bem contada.
Com as artes visuais, ela recria a literatura, a oratória. Anderson lida com palavras, com imagens, com lguagem e mbém com sentimentos e sensações.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

CATERPILLAR NA REPESCAGEM DA MOSTRA


Quem tiver disposição para estar neste sábado à meia noite no CINE LIVRARIA CULTURA 1(Conjunto Nacional) vai poder conferir o ótimo filme japonês CATERPILLAR, de Koji Wakamatsu. É daqueles filmes estranhos, soturnos, que fazem os 85 minutos de exibição parecerem bem mais, não por ser ruim ou chato, mas pelo clima pesado que impõe.

Trata-se da história passada na segunda grande guerra, quando um soldado que retorna completamente mutilado para casa. E não é qualquer mutilação não, faltam-lhe as pernas, os braços, a voz e a audição. Além disso, seu rosto está desfigurado. De sua esposa, espera-se um comportamento exemplar, dedicação integral ao homem que deu seu corpo à defesa do império japonês e é considerado por todos um “deus da guerra”. Ou seja, ela deve lhe satisfazer integralmente, sexualmente inclusive.

Aliás as cenas de sexo são constantes nesse filme escuro, como se a mulher estivesse mergulhada num tipo de inferno(que PE seu próprio lar) afinal a tantas horas se percebe que o sujeito perdeu tudo, menos seu comportamento repulsivo. Uma cena impressionante, vemos ele começar a penetrar a esposa, que faz cara de dor. Em seguida, o treinamento de defesa das camponesas, que fincam lanças num saco feito de palha(ou algo do tipo).

Cinema é a arte da imagem, por certo, mas as imagens ganham sentido através da montagem. É na sequência delas que o cineasta melhor transmite a idéia de dor, agressividade e violência na relação do casal.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

UM BOM FILME NÃO ACABA AO FINAL DA PROJEÇÃO

O interessante de se ver bons filmes é que eles ficam na cabeça por um bom tempo, criam vida nova, relações com seu próprio universo cultural. Foi assim com alguns exibidos na Mostra e que provavelmente entram em cartaz em breve(com exceção, creio, do filme de Lluis Miñarro).


StripTease Familiar- Lluis Miñarro

De cara antipatizei com o filme, afinal só o vi por não ter conseguido ingresso para as 5 horas e meia de “Carlos”, de Olivier Assayas. Ainda por cima a sinopse prometia um filme que “mostraria a Espanha Omo um país marcado pela guerra e pela religiosidade”. Quando dei por mim estava vendo um filme caseiro em que o diretor entrevista seus pais.Quer dizer, em termos, porque sua mãe idosa quase não dá espaço ao esposo, quando não lhe corrige e dispara umas broncas. Sim, através da conversa percebemos alguns traços da religiosidade e da guerra, no que elas marcaram a família. Mas não é o interesse central do filme. Não fosse pelo texto de Filipe Furtado na Cinética  http://www.revistacinetica.com.br/familystrip.htm
eu não teria entendido que ali se dá a transformação da pessoa , do real em outra coisa, em arte. Como, aliás, entrega um pintor que faz um retrato da família. “essa aí não sou eu” diz a velhinha. Aquela é arte, como também o filme.Apesar de muita genbte ainda acreditar no cinema como a arte da recriação do real e essas coisas(aqui a conversa vai longe). Aliás, no texto da Cinética voc~e vai entender que “familystrip”, o título original, não se refere ao striptease da nossa traduição, mas ‘a tiras de quadrinhos. Não acredita? Pesquise o termo na internet.

Memórias de Xangai – I Wish I Knew – Jia Zhang -ke

Esse filme de imagens maravilhosas, encantadoras, dialoga perfeitamente com StripTease Familiar. Aqui , de fato, trata-se de contar a história recente da China de forma fragmentária, através de depoimentos de pessoas escolhidas aparentemente ao acaso. Quer dizer, é(com no outro filme) a história pessoal delas marcada pelos fatos históricos (a revolução comunista, principalmente). E há, o tempo todo, referência ao cinema, seja como documento histórico, seja como memória pessoal. História,cinema e realidade. É a arte dialogando com a vida.

O Estranho Caso de Angélica – Manoel de Oliveira

É Manoel de Oliveira, portanto lento, silencioso. Sua contemplação joga luz para a inexorável decomposição da tradição de Portugal, logo este país em que a tradição sempre foi muito forte, enraizada. A história flerta com surrealismo, com outras obras do cinema(novamente um diálogo entre realidade (a a marcha da história no país, que dilui as tradições) e a arte (o cinema e nossas memórias pessoais destes filmes). E o filme é solene ao extremo, para melhor ironizar toda essa solenidade. Quem está familiarizado com Manoel de Oliveira vai entender melhor o quanto de humor e ironia tem nessa história de um fotógrafo que se apaixona por uma morta a quem vai retratar ao ponto de fantasiar estar voando com ela pela cidade.