O escritor Moacyr Scliar,na edição de agosto do "Le Monde Diplomatique Brasil" apresenta dados bem interessantes que complementam a postagem anterior deste blog, sobre a questão da leitura, dos livros e do aprendizado da língua portuguesa.
Os números são indiscutivelmente ruins: o brasileiro lê apenas 1,3 livro por ano . Em comparação, o norte Americano lê 11, o francês, 7 e o argentino, 3,2.
No Brasil há uma livraria para cada 64 mil habitantes,bem abaixo do número que a Unesco considera ideal que é de uma para cada 10 mil.
Scliar diz que “o livro custa caro porque vende pouco,e vende pouco porque custa caro” mas ressalva que o livro de bolso tem público cada vez maior e que “aumentar a venda é uma forma de baixar o preço,mas isso só acontece quando as pessoas têm o hábito da leitura” . Para ele, o gosto pela leitura se desenvolve basicamente em duas etapas , infância e escola. Na infância a criança é influenciada basicamente pelo ambiente familiar(de forma semelhante ao que eu disse aqui, que a escolaridade dos pais influencia na dos filhos- influencia, não determina, por favor).O problema é que no Brasil 63 % dos leitores afirmam que nunca viram os pais lendo. Para completar a encrenca, “faltam bibliotecas em 113 mil escolas, ou seja , 68,81% das escolas da rede pública de ensino”.
Dos aproximadamente 190 milhões de brasileiros, 95 milhões podem ser considerados leitores.Podem, mas na prática não são, ainda que a maioria absoluta,75%, afirme gostar de ler.
Scliar é ainda assim é otimista: “Os últimos governos têm se esforçado para preencher esta lacuna;em 2008,as escolas receberam,em média,39,6 livros cada uma,por meio do Programa Nacional de Bibliotecas Escolares.A par disto, um grande esforço está sendo desenvolvido para estimular o hábito da leitura entre os escolares”.
Ele enfatiza também a modernização no ensino da literatura: “hoje as escolas trabalham também com escritores contemporâneos, e a interação com o texto é a regra. Os alunos fazem dramatizações, escrevem suas próprias versões dos textos, editam jornais na escola”.
Por outro lado, dados do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) divulgados pelo UOL Educação mostram que ano que vem, nada menos do que 222 municípios do país não vão receber livros didáticos do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) distribuídos pelo MEC (Ministério da Educação)aos alunos do ensino fundamental. Destes, 146 estão em São Paulo. É certo que muitos dos municípios trocaram os livros por apostilas didáticas(mais práticas, mas que limitam o trabalho do professor) mas outros simplesmente não se cadastraram no programa, exigência que começou este ano.
O Brasil ainda é um país de abismos gritantes, em que avanços coexistem com desertos culturais como na Zona Sul de São Paulo, em que quase inexistem opções de lazer e cultura à população carente.
2 comentários:
cara
com vc provavelmente deve ter sido assim tb, mas vc se lembra como lhe foi apresentado Machado de Assis? Graciliano? Pra mim foi como se fosse uma tijolada na cara... Pode ser o velho falando, mas nao tem como, um moleque de 17, 18 anos entender memorias postumas , nas suas ironias, se divertir, entender que no fundo aquele livro é uma puta tiraçao de sarro... nao rola mesmo... Nao tem embocadura pra isso.
Apresentando os pesos pesados desse jeito, só ai a gente ja afugenta muitas pessoas, nao forma novas gerações de leitores e por ai vai
e sem contar que incentivo de casa, é fundamental. Comprar um gibizinho da monica ao inves dum pipa pode fazer milagres pra uma criança de cinco, seis anos
Pois é. A tendência hoje de se trabalhar com autores contemporâneos é ótima-falo nisso na conclusão da série de textos. Um Hary Potter então, traz a leitura pra uma garotada que antes, não tinha esse hábito. Uma vez adquirido, sói precisa ser aprimorado, pra que ele não queira só aquilo que é familiar(o mau do cinema pipoca ).
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