Para a historiadora Mônica Almeida Kornis , em seu livro Cinema, televisão e História (Zahar) “o filme deve ser visto também como um agente da história e não só um produto” . Citando o historiador francês Marc Ferro, Kornis afirma também que o cinema revela uma contra-história, passível de uma contra-análise da sociedade, por “ revelar aspectos da realidade que ultrapassam o objetivo do realizador, além do fato de as imagens expressarem a ideologia de uma sociedade”. Ou seja, um filme não deve ser encarado como um documento histórico afinal é a visão de uma pessoa sobre determinado momento, mas indiretamenente dá pistas sobre momento em que foi filmado .
Este “aspecto da realidade” é que motiva a mostra de 11 filmes “A saga negra do norte” que acompanha, desde o dia 17 deste mês, a exposição “Eu tenho um sonho- a saga negra do norte-de King a Obama” no Museu Afro Brasil (São Paulo).
Com curadoria de Eugenio Pupo ( o mesmo da retrospectiva José Mojica Marins no CCBB), a mostra composta por documentários e longas de ficção tem como mote a chegada do primeiro negro à presidência da república nos EUA para refletir sobre a imagem que seu país faz do negros e a maneira como eles mesmos passaram a se enxergar em momentos importantes da história norte-americana. Há desde o elogio da Klu Klux Klan pelo sedimentador da gramática cinematográfica clássica, D.W.Griffith, com seu “Nascimento de uma Nação” (1915) - ele meio que se desculparia depois filmando “Intolerância”- até os filmes Blaxploitation como “Shaft”, de Gordon Parks (1971) feito por negros e para negros e com marcante trilha sonora dos bambas da soul music.
E a soul music não podia mesmo ficar de fora, afinal o jeito de dançar, de cantar e as roupas extravagantes eram tudo o que os brancos não podiam copiar e fortaleciam o “orgulho negro” na virada dos 60 para os 70 – época inclusive em que o blues era meio desprezado, visto como música conformista, herança de escravos. Pena que fique restrito apenas a “O Poder do Soul”, de Jefrey Levy-Hinte(2008)- “WattStax” ficou de fora, por exemplo. A mostra passeia ainda por filmes de cunho histórico , como Malcom X(1992) de Spike Lee e por documentários como “ O Assassinato de Martin Luther King (1993), de Denis Muller.
Museu Afro-Brasil funciona de terça a domingo, das 10h às 17h. A entrada é gratuita.
Para ter acesso à programação completa vá a http://www.museuafrobrasil.org.br/
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