sexta-feira, 16 de julho de 2010

O DEUS DAS PEQUENAS COISAS- CINEMA DE YASUJIRO OZU


Chega a ser lugar-comum dizer que se deve procurar beleza nas coisas simples da vida, dos livros de auto-ajuda às apresntadoras de programas femininos, todos concordam, no entanto pouca gente realmente leva a cabo e, menos ainda são aqueles transformam isso em arte, talvez porque isso não seja assim tão...simples.
O cineasta Yazujiro Ozu é um dos poucos que conseguiu tirar beleza e encantamento dos fatos mais triviais da vida, aqueles do íntimo do cotidiano familiar. A rigor seus filmes (feitos na maioria entre os anos 1930 e 60) versam “na verdade sobre um único tema, a dissolução da família tradicional japonesa” como diz Richard Beardsword, em seu A Hudred Years of Japanese Cinema” (Koadansha), no entanto engana-se quem pensa que eles são desprovidos de interesse a um ocidental do século 21. A poesia, a beleza toca fundo em qualquer um, ainda que passe despercebido algumas obeservações sobre a abertura da sociedade japonesa de seu tempo;são comuns os closes em garrafas de whiky, placas com propagandas da coca cola, ou estabelecimentos com nomes estrangeiros(como o “Balboa Tea and Cofee”).


Mas Ozu é ainda mais do que retratista do encanto das coisas triviais, ele é um dos primeiros a enxergar criticamente o cinema clássico norte-americano(que ele tanto admirava e de que absorvia tantas lições). Para ele, não deveria haver ligação emocional do espectador com os personagens afinal o mundo já é pleno de significados para que o cinema faça recortes (no tempo e no espaço- a edição) e transformações a fim de dar-lhe um significado único. Afinal o cinema americano era(e é) assim, ele diz alguma coisa com a imagem da qual não devemos duvidar, ou mesmo entender nada por nossa conta. Assim, sentimentos são padronizados e universalizados. Ozu utiliza planos longos, foge do fade out, busca a ambigüidade das cenas para dialogar com o espectador ao invés de dar um sentido único, uma verdade pronta.
Um dos muitos artifícios daquilo que ficou conhecido como o “sistema Ozu” é o uso da câmera baixa, à altura de um homem sentado no tatame. Pode parecer bobagem, mas a câmera nessa posição, tira o rosto dos personagens do centro da tela. E o centro da tela, desde o Renascimento, corresponde ao ponto de fuga, ao lugar onde o olhar do espectador se dirige instintivamente e é lá onde se dá a identificação emocional, que Ozu rejeita. Porque,para ele, o verdadeiro sentimento está em nós, não naquilo que nos diz o cineasta.


A mostra "Emoção e Poesia: O cinema de Yasujiro Ozu" vai até 25 de julho no CCBB São Paulo.

Informações em



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O título da postagem é uma referência ao belíssimo livro da indiana Arundathi Roy

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