A excelente publicação Le Monde Diplomatic Brasil, em sua edição de número 50(setembro) trouxe excelente artigo do escritor Owen Jones, A Moral Britânica contra a "Escória" que trata do modo como foi retratada , na midia britânica, a revolta juvenil que tomou as ruas de inglesas em agosto deste ano ,bem como as reais causas dos ataques. É um texto que serve para compararmos com a repercussão que teve a revolta dos alunos da FFLCH na opinião pública brasileira.
A destruição de lojas e outras depredações quase aleatórias tornou os jovens ingleses antipáticos à opinião pública mundo afora, que viu nos atos nada além de vandalismo, causados "pelo uso excessivo de drogas" pela decadência moral e a perda de valores familiares, sem jamais buscar entendê-los de outra forma. E,claro, saudou-se a repressão policial violenta ao "bando de animais ferozes"(termo que ficou comum no Twitter). O jornalista Richard Littlejohn, do DailyMail , um pouco menos comedido que os os colegas brasileiros, sugeriu "matá-los a pancadas como filhotes de foca" .
Não vou tratar o leitor por tonto e ficar estabelecendo comparações e paralelos (são situações bastante diferentes) apenas digo que lá,como cá, havia muito mais do que era dito nos meios de comunicação. Transcrevo trechos deste, e também de outro artigo, publicado na mesma edição e intitulado Geração sem Futuro, de autoria de Ignacio Ramonet, jornalista, sociólogo e diretor da versão espanhola do Diplomatic.
"Em Tottenhan,onde começaram os levantes, há 34 candidatos para cada posto de trabalho. A imensa maioria dos postulantes possui menos de 24 anos e está desempregada.Parece tão surpreendente que justamente essa população sem emprego,carreira ou auto-estima- e não a dos bairros abastados-tenha se envolvido nos levantes de agosto? Certamente pobreza e desemprego não conduzem à pilhagem e à violência, mas basta alguns poucos manifestantes para detonar a bomba-relógio de um bairro pobre"
- Owen Jones
Hoje é diferente (de 1968 - Nota de transcrição). O mundo está pior e as esperanças esmoeceram. Pela primeira vez em um século,na Europa, as novas gerações têm um nível de vida inferior ao de seus pais. O processo globalizador neoliberal brutaliza os povos,humilha os cidadãos e despoja os jovens de um futuro.
E a crise financeira, com suas ´soluções´de austeride contra a classe média e os mais humildes,piora o mal-estar geral.Os Estados democráticos estão renegando os próprio valores.em tais circunstâncias, a submissão e o aacatamento da ordem são absurdos.(...)
A impetuosa explosão inglesa se diferencia dos outros protestos juvenis-em geral pacíficos embora com enfrentamentos pontuais em Atenas, Santiago e outras capitais-pelo grau de violência utilizado. (...)os amotinados ingleses, talvez pelo pertencimento de classe, não verbalizaram seu descontentamento. Nem colocaram seu furor a serviço de uma causa política ou da denúncia da desigualdade concreta.Nessa guerrilha urbana, nem sequer saquearam os bancos com ira sistemática. Deram a (lamentável)impressão de que a raiva pela condição de despossuídos e frustrados tinha como único foco as vitrines repletas de benesses do mundo do consumo. De qualquer forma,como taantos outros ´indignado´esses esquecidos pelo sisttema-que já não pode oferecer-lhes um lugar na sociedade,um futuro- expressavam o desespero".
- Ignacio Ramonet
2 comentários:
espere um exodo de gente desesperada vindo pra ca pros proximos anos, escuta o que eu to falando
É bem provável mesmo.
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