No documentário “Jazz”,dirigido por Ken Burns, o trompetista diz que Charlie Parker, ícone máximo do bebop, é como Picasso, ele não vem até você, você é que tem de ir até ele. Com isso explicava a dificuldade dos contemporâneos de Parker(e mesmo das pessoas hoje) em apreciar sua arte “difícil”, que não tem melodias assoviáveis, nem se presta a passinhos de dança de salão(e jazz, na época, era sinõnimo de dança, de "fox").
Enfim, Picasso, no fim das contas, acabou vindo até nós por caminhos tortos, pela diluição do cubismo(ainda que ele fosse muito mais do que cubista), hoje até na embalagem do Toddy você vê figuras desenhadas a partir de mais de um único ponto de vista. Lógico, cubismo não era só isso, mas, de uma forma ou de outra, ele é “compreensível”à maioria das pessoas, que podem apreciar um quadro de Picasso sem grandes traumas.
Mas eis que retorna a Bienal de Artes de São Paulo, evento só superado em importância no mundo pela Documenta de Kassel, na Alemanha. Quem se aventurar não irá encontrar facilidade, não há um Romero Brito (aquele da embalagem do Omo ) de quem o curador Agnaldo Farias inclusive desdenhou em entrevista à revista Cult de setembro.
A arte contemporânea não se presta a uma interpretação fácil, logo aquele que vê não se agrada visualmente nem consegue se colocar na posição de diferenciar um bom artista de um picareta. Pra completar, ainda hoje persiste a idéia do “bem feito”, um quadro Renascentista , por exemplo, é bom porque é perfeito, quase real. Já as gravuras de Picasso (estão em exposição permanente na estação Pinacoteca, aqui em São Paulo), essas não são cubistas, parecem mais desenhos toscos feitos por uma criança, logo são uma porcaria.
Mudar a opinião de quem pensa assim dá trabalho porque requer um ensino de toda trajetória da História da Arte, das idéias de beleza, perfeição, etc.
Quem for à 29ª Bienal de Artes de São Paulo e não tiver lá muita familiaridade com arte contemporânea terá então de fazer algumas concessões.
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