Tem um ótimo artigo na coluna do Sérgio Codespoti no Universo HQ(que infelizmente não é mais publicada) em que ele fala sobre uso de fotografias por desenhistas de HQ para produzir o tal "efeito realista", muito comum hoje nos quadrinhos de super heróis- http://www.universohq.com/quadrinhos/2009/chiaroscuro_realismo.cfm.
Sem condenar o uso, Codespoti mostra no entanto sua limitação por artistas pouco talentosos;a página fica engessada, porque submete a composição toda à fotografia.
Ora, um personagem deve agir, reagir, mover-se de acordo com o que pede a história, não porque você tem uma referência fotográfica prévia e quer usá-la. Aí já é o contrário, você submete a história (que tem suas necessidades, "chama" por determinada ação) à fotografia.
Existe um outro problema, que é desenhar homens e mulheres de acordo com modelos fixos. Todos tem o mesmo tipo de corpo(toda mulher tem cinturinha ,peitos enormes e traseiro alongado como o da Pippa Middleton, pra ficar num exemplo famoso).
Os rostos não tem individualidade, até porque trazem uma ou outra mínima variação do modelo. Enfim, nada disso é o que vemos numa série fantástica como Sanctuary, mangá que infelizmente teve sua publicação interrompida no Brasil pela Conrad. Até é provável que Ryoichi Ikegami, o artistaa, tenha usado referência fotográfica, mas ele soube submeter suas imagens à uma ordem maior, a da página, e, mais do que isso, dar individualidade aos rostos. A maneira como se penteia um, como tem a barba por fazer o outro, dão pistas de seus caráteres que a história não explicita. E reparem que o personagem de brinco tem uma ligeira mudança de expressão entre um quadrinho e outro.
O desenho é o mesmo, com excessão de uma marca de expressão embaixo do olho esquerdo do personagem e de seua sobrancelha direita, que se eleva um pouco. Ou seja, é o que pede a história, que naquele momento tem uma tensão crescente entre os três yakusas. E,solução inteligentíssima, ao simplesmente reproduzir a figura maior (com chapéu de camponês) ele mostra que, após as reações dos outros dois(espanto de um, leve indignação e dúvida do outro) ele permanece impassível, o que é realçado pelo close em seus olhos.
Parece pouco, mas não é.
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