Depois de ver Tropa de Elite2 ninguém mais pode dizer que é inocente. Está tudo ali, a corrpução policial, as ligações espúrias do crime com a política,os assassinatos mandados e a ação direta e indireta da imprensa em favor desse esquema todo. Páginas e mais páginas de artigos sobre violência e corrupção encontraram uma representação perfeita em duas horas de filme.
A profundidade do poço de lama em que o filme mergulha é tão grande que fica a sensação de que ele deveria ser mais longo,ter pelo menos uma hora a mais, mas isso prejudicaria o desempenho nas bilheterias, arrumaria dor de cabeça com os distribuidores, os cinemas e tal. Enfim, não é o caso de elogiar o Tropa2, porque ele fala por si e porque gente muito melhor do que eu já escreveu sobre ele.
Mas uma palavrinha sobre os defeitos, vale a pena. O problema todo está na narração em primeira pessoa. É uma opção problemática, típica do film noir e que aqui repete suas manias, principalmente a de fazer do narrador personagem um narrador onisciente. Como se fosse um livro em terceira pessoa. Nascimento,agora coronel, sabe e narra coisas que ele não presenciou e que o filme não coloca em cheque. Nesse caso não dá pra atribuir subjetividade ao que ele diz (dizer que é o ponto de vista dele, não do filme-como era possível no primeiro “Tropa”), não dá pra julgar Nascimento um Bentinho que diz e “prova” por A+B que Capitu é adúltera mas o livro não nos dá prova alguma. E com isso vêm alguns furos no roteiro. Bráulio Mantovani,o roteirista, tem momentos de brilhantismo alternados com alguns erros meio primários.
A cena inicial é a de um atentado à vida de Nascimento. Crepúsculo dos Deuses, obra –prima de Billy Wilder começa um pouca assim, só que o narrador entrega logo de cara que é Brás Cubas, ou seja, está morto. Como não tem nada de fantástico no universo de Tropa de Elite, fica claro que é um truque meio safado pra enganar o público e que, claro, não engana, afinal,se ele está narrando é porque está bem vivo. E com isso nada de suspense na cena também. Isso remete ao Kill Bill também, mas lá sabemos que a Noiva era pra ter morrido e não morreu. E remete também ao Pânico nos Bastidores, de Hitchcock em que, pra surpreender o espectador, começa com um flashback falso. Hitch depois admitiu ter sido este o maior erro de sua carreira, pois não se deve mentir para o espectador.
O fato da narração de Nascimento não ser subjetiva não é o problema (a gravidade das coisas que o filme aponta pedem uma objetividade, uma firmeza de opinião que não se deve flexibilizar a nenhum custo) e sim os pequenos tropeços advindos dessa opção.
Nada que diminua a intensidade do,com o perdão da expressão, sonoro “puta que o pariu” que a gente solta ao final do filme.
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