O trecho a seguir foi retirado da entrevista dada pela atriz Vera Fischer à coluna da jornalista Mônica Bergamo, na Folha de São Paulo do dia 13 deste mês. Fischer estava anunciando o lançamento de uma coleção de nada menos que dez romances de sua autoria.
Vera F. - Meus personagens não são nunca pobres, são sempre ricos(gargalhadas).
Coluna-Por que?
Vera- Porque eu não gosto,eu não sei escrever pra gente pobre.Eu detesto.
C-Os que você chama de pobres podem comprar seus livros.
V- Podem.Porque eles não custam caro. Eles vão se identificar e adorar. Coisa bonita é sempre melhor.
Tropa de Elite 2 jogou luz de maneira única sobre o quanto é ilusória essa idéia de que a violência nasce no morro, na favela.
Porque sempre se tratou de,seja no jornalismo como na ficção, de identificar o inimigo, o culpado pelos males e dar a ele uma feição clara: o preto da favela. Devidamente identificado, era fácil descobrir uma solução para a tal da violência: prender e jogar a chave fora,pena de morte, fazer uma prisão no meio da Amazônia e outras bobagens que o povo repete a torto e a direito por aí. Era pra isso que os ricaços no auto do Cristo redentor rezavam durante a invasão no morro do alemão, era pra isso que esses mesmos ricaços se vestiam de branco e saíam em passeata pelas ruas de Copacabana uns anos atrás por causa de algum desses crimes que causam comoção popular. Quando fala-se em violência remete-se diretamente ao traficante, ao negrinho armado com fuzil mas violência é um conceito amplo demais. Vera Fisher por exemplo, é a mais acabada personificação da violência social, de uma elite (vamos esquecer o ranço sidicalista que essa palavra ganhou), de um grupo de poder aquisitivo muito alto, que quer apenas viver a parte do “populacho”, ainda que às custas dele o que é o caso dela, que construiu sua carreira tanto em filmes como novelas de alcance extremamente popular.
Ou seja, qualquer identificação com a relação da Casa Grande com a Senzala não é mera coicidência. E a polícia, para essa elite, não é muito mais do que um Capitão do Mato. Só que o Capitão da vez, o Nascimento, mira agora sua fúria para seus patrões.
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Penso que até hoje não se reconhece a violência social pelo pouco empenho da ficção em deter-se sobre ela. É sem dúvida muito mais fácil lidar com o inimigo que, posto na cadeia ou morto com um tiro, resolve os problemas. A violência social é difusa, não pode ser atribuída a este ou aquele vilão. As novelas muitas vezes trazem um rico arrogante e malvado, mas fica claro que é aquele indivíduo em si que é daquele jeito, que nãooo expressa todo um pensamento de uma camada social, uma maneira de ver o mundo. E,vida de regra, ao final ele é punido, colocando as coisas na ais santa paz. Paz que não existe nesta sociedade camuflamente violenta.
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