quinta-feira, 4 de novembro de 2010

UM BOM FILME NÃO ACABA AO FINAL DA PROJEÇÃO

O interessante de se ver bons filmes é que eles ficam na cabeça por um bom tempo, criam vida nova, relações com seu próprio universo cultural. Foi assim com alguns exibidos na Mostra e que provavelmente entram em cartaz em breve(com exceção, creio, do filme de Lluis Miñarro).


StripTease Familiar- Lluis Miñarro

De cara antipatizei com o filme, afinal só o vi por não ter conseguido ingresso para as 5 horas e meia de “Carlos”, de Olivier Assayas. Ainda por cima a sinopse prometia um filme que “mostraria a Espanha Omo um país marcado pela guerra e pela religiosidade”. Quando dei por mim estava vendo um filme caseiro em que o diretor entrevista seus pais.Quer dizer, em termos, porque sua mãe idosa quase não dá espaço ao esposo, quando não lhe corrige e dispara umas broncas. Sim, através da conversa percebemos alguns traços da religiosidade e da guerra, no que elas marcaram a família. Mas não é o interesse central do filme. Não fosse pelo texto de Filipe Furtado na Cinética  http://www.revistacinetica.com.br/familystrip.htm
eu não teria entendido que ali se dá a transformação da pessoa , do real em outra coisa, em arte. Como, aliás, entrega um pintor que faz um retrato da família. “essa aí não sou eu” diz a velhinha. Aquela é arte, como também o filme.Apesar de muita genbte ainda acreditar no cinema como a arte da recriação do real e essas coisas(aqui a conversa vai longe). Aliás, no texto da Cinética voc~e vai entender que “familystrip”, o título original, não se refere ao striptease da nossa traduição, mas ‘a tiras de quadrinhos. Não acredita? Pesquise o termo na internet.

Memórias de Xangai – I Wish I Knew – Jia Zhang -ke

Esse filme de imagens maravilhosas, encantadoras, dialoga perfeitamente com StripTease Familiar. Aqui , de fato, trata-se de contar a história recente da China de forma fragmentária, através de depoimentos de pessoas escolhidas aparentemente ao acaso. Quer dizer, é(com no outro filme) a história pessoal delas marcada pelos fatos históricos (a revolução comunista, principalmente). E há, o tempo todo, referência ao cinema, seja como documento histórico, seja como memória pessoal. História,cinema e realidade. É a arte dialogando com a vida.

O Estranho Caso de Angélica – Manoel de Oliveira

É Manoel de Oliveira, portanto lento, silencioso. Sua contemplação joga luz para a inexorável decomposição da tradição de Portugal, logo este país em que a tradição sempre foi muito forte, enraizada. A história flerta com surrealismo, com outras obras do cinema(novamente um diálogo entre realidade (a a marcha da história no país, que dilui as tradições) e a arte (o cinema e nossas memórias pessoais destes filmes). E o filme é solene ao extremo, para melhor ironizar toda essa solenidade. Quem está familiarizado com Manoel de Oliveira vai entender melhor o quanto de humor e ironia tem nessa história de um fotógrafo que se apaixona por uma morta a quem vai retratar ao ponto de fantasiar estar voando com ela pela cidade.


3 comentários:

Mário disse...

vergonhosamente eu vi um filme apenas do manuel de oliveira, mas entendi, que msm no auto dos seus 90 anos na epoca ele estava tirando uma bem tirada da cara da sociedade

Adilson Thieghi disse...

E de pensar que o homem está hoje com 101,e filmando !!!

Mário disse...

clint ta com 81 e firmao ainda, mojica chegando la tb