quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

ADEUS A WANDO E ETTA JAMES


Morreu Wando, que não foi o cantor das multidões, nem popstar, mas cantor de multidões, muitas delas não confessas. Dizer que alguém é  "meu iá iá,meu io io" não é pra qualquer um. Wando era a cara do Brasil, mas não essa cara que quer entrar pela porta da frente no tal primeiro mundo, com cabelo alisado de chapinha e corpo contruído em laboratório. Era beiçudo,"cabelo-ruim", miscigenado. Brasileiro,enfim. E de xaveco sem vergonha, terno barato, "macho jurubeba", pra usar uma expressão do Xico Sá. Wando morre numa época que o renega (mais do que sua música, seu biotipo e tudo que ele significa) e que recentemente só o acolhia no confortável gueto dos "cantores bregas".Seja lá o que isso signifique.


Morreu Etta James. A primeira vez que soube de sua existência, se não me engano, foi num programa de jazz na Bandeirantes apresentado pelo Nelson Motta, lá na década de 1990. Era um Montreux Festival onde uma figura gorducha esparramava sobre o público mais sexualidade do que Beyoncé,Rihanna e outras malhadas jamais serão capazes.

Seu rebolado não era calculado pela coreografia milimétrica, mas pela empolgação genuína. Virava o traseiro para a platéia enquanto  apoiava as mão sobre um piano. Era, como dizia muita gente nos EUA, indecente. A típica dona de bordel à beira da estrada(ou pelo menos como é no imaginário coletivo), figura renegada pelo puritanismo obscurantista em que  mergulhou os EUA e também por esse culto obssessivo pela forma física em detrimento da arte, pela embalagem que fere de morte o conteúdo.
Etta começou na Chess records boazinha, cantando músicas em que uma moça sofre porque vê o amado casar com outra("Stop the Wedding", 1962e "All I do was cry",1960), mas logo foi ficando peralta, falando em striptease(You can leave your hat on,1973) afirmação sexual (Tell Mama,1967) e coisas bem mais barra-pesadas,como racismo(Lets Burn down the cornfield,1974) e niilismo (God´s Song, 1973).

 
 Seu vozeirão poderoso, quase masculino, era, para mim, comparável ao de Aretha Franklin no panteão da soul music. Aliás, eu( e,acredito, só eu) via nas duas algo comparável à rivalidade "Beatles vs Rolling Stones". Aretha de certa forma comportadada , mas cujo ponto de virada foi tornar sua canções mais complexas musicalmente(quando flertou com o funk e o jazz ao lado de Quincy Jones)  e Etta, aquela que se aperfeiçoou em ser uma besta-fera,uma pedra que rola morro abaixo(rolling stones gather no moss!). Fera que o perfeccionimo "artístico" (mercadológico)fez questão de domesticar e transformar nessas atletas de microfone que pulam nos palcos mundo afora.

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