Ontem estava lá no programa Metrópolis, da TV Cultura, Daniela Mercury, dando entrevista e cantando ao vivo acompanhada de três músicos.
Daniela perdeu faz tempo o estigma de cantora de multidões(hoje com Ivete Sangalo e Cláudia Leite) e vira e mexe busca novas identidades, como foi o caso do polêmico Trio Eletrônico, em que colocou música eletrônica em seu trio eleétrico alguns canavais atrás.
Dessa vez ela flerta abertamente com a tal da "seriedade" e com a "profundidade". Lançou um disco com três capas diferentes, casa um deles contendo as mesmas músicas,porém em ordens diversas.
Juro que não entendi a justificativa dela e,creio,nem Cadão Volpato, o entrevistador,entendeu chongas. Mas era algo como mostrar ao público as difersas facetas dela, músicas de diversos tipos, mais lentas, com , sei lá, diferentes interpretações. Enfim, depois de "explicar" a coisa toda,ela anunciou, toda pimpona, que havia neste disco, uma versão de "Como nossos pais", do Belchior(?!?!?),eternizada na voz de Elis Regina . Daniela explicou, de um jeito que eu também não entendi(não foi culpa dela, eu é que estava mastigando sucrilhos na hora), a atualidade da música. Atualidade ou importância, ou algo por aí.
O diabo é que essa é certamente a música mais desatualizada, ultrapassada e atualmente sem sentido do Brasil. Depois,talvez, de Eu te Amo,meu Brasil,"hino" involuntário da ditadura militar feita pela dupla Don e Ravel. Porque Como nossos Pais fala de um mundo que nascia, o dos jovens e que buscava,não sem conflito, o direito de existir. E hoje, não tem o menor cabimento cantar que
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais...
Uma ova! Hoje,acho que ninguém se surpreende quando eu digo, são nossos pais que vivem como nós, a "gente jovem reunida". São eles que, não sem conflito, buscam espaço no "nosso"mundo da revolução tecnológica, das redes sociais e até dos "amores líquidos"(pra usar uma expressão do filósofo Zygmunt Bauman).
No artigo"Como se relacionam as gerações na sociedade Contemporânea" escrito para a Revista E, de novembro de 2010(nº5-ano17)a professora Vera Lucia Valsecchi de Almeida citou trecho do livro "Tempo da Memória: De Senectude e outros escritos biográficos", de Norberto Bobbio (Editora Campus,1997):
"(...) as transformações cada vez mais rápidas, quer dos costumes,quer das artes,viraram de cabeça para baixo o relacionamento entre quem sabbe e quem não sabe.Cada vez mais,o velho passa a ser aquele que não sabe em relação aos jovens que sabem".
Mas para alguém que, em tempos de itunes, lança três versõs do mesmo disco em que o diferencial é a capa e a sequência das músicas (sequência????) Como nossos Pais ainda deve fazer todo sentido do mundo.
Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos...
Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...
Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...
Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz...
Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração...
Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais...
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais...
Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando...
Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...
Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal...
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo,
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Como os nossos pais...
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