Depois do longo texto com reflexões sobre a Virada Cultural, pego um das pontas que deixei soltas, a da Política Cultural. O que a Virada faz é levar cultura às pessoas de uma maneira atodos possam, mesmo que sem querer, tomar contato com diversos tipos de manifestações artísticas. Isso quebra todo tipo de barreira,como a do fã de rock que diz odiar samba, a do pessoal do teatro que não gosta, sei lá, de show de rock e por aí vai. Até porque se você gosta de algum tipo de arte e, claro, tem de pagar por ela, dificilmente você arrisca. Mas enfim, o que eu dizia é que se deve haver uma política cultural ela tem de começar por levar a arte ao povo, da mesma maneira que a Virada. Porque cultura paga elitiza, e você fica com regiões inteiras e milhares de pessoas cuja única forma de cultura que recebem vem da TV aberta (não que a paga seja grande coisa, mas aí é outro assunto), que, qualquer um sabe, 90 % do tempo joga como a seleção do Dunga, apenas pra garantir o resultado, arriscando o mínimo possível. Isso reduz a coisa ao mínimo denominador comum, à esterelidade total, às fórmulas prontas que agardam todo mundo sem exigir esforço nenhum. Pois bem é, ou pelo menos deveria ser, obrigação do Estado oferecer cultura(citei antes o exemplo de cinema a céu aberto) seja na forma de espetáculos de teatro, música clássica ou exposições. A situação é tão creítica que muitas cidades no Brasil não tem sequer uma sala de cinema ou um teatro. Aqui mesmo no grande ABC temos a onipresença do Cinemark, cuja programação não é muito melhor do que a da TV aberta, bem como salas de teatros municipais que cobram ingressos caríssimos para exibirem comédias Stand-Up.
Mais do que oferecer apenas cultura o Estado DEVERIA facilitar o aprendizado artístico, na forma de bolsas de estudo escolas gratuitas, sei lá.
Vamos pensar na seguinte situação: Um jovem da vila Brasilândia que vê a OSESP por exemplo. Não vai ver, não como as coisas são hoje, mas imaginemos que ele veja e decida se tornar um violoncelista, o que ele faz? Já éum milagre conseguir um colégio técnico, imagine então ensino artístico de qualidade-pedir qualidade é pedir mais que o milagre, vamos ser sinceros.
Está tudo errado desde o princípio, porque para que nosso jovem hipotético queira ver a OSESP (existem concertos gratuitos domingo de manhã, na Sala São Paulo) ele precisa primeiro saber que ela existe e isso não vai acontecer porque, até onde eu saiba, orquestra nenhuma toca em áreas carentes. Aliás, muitas orquestras estão na pindaíba, maltratadas pelas prefeituras, pelo nepotismo (entre muito músico ou cantor porque é amigo do vereador fulano...) e aí a crise é outra, a de qualidade.
Algo está sendo feito pelo Banco do Brasil, através do CCBB http://bb.com.br/portalbb/home21,128,128,0,1,1,1.bb. É o programa No Centro da Arte, que leva a programação do CCBB SãoPaulo para a Praça do Patriarca. Entre maio e Junho se apresentam o grupo de forró trio Sabiá, o espetáculo de música e dança Lo Mejor Del Tango (foto) e o quinteto SLAP, que usa instrumentos de sopro (oboé, clarinete, sax) para interagir com o filme The Circus, de Charlie Chaplin. As apresentações são ou ao meio dia e meia ou às 18h00, o que é estratégico -você "fisga" as pessoas no almoço ou saindo do serviço.
Antes de reclamar que o povo não gosta disso ou daquilo, que prefere ver TV, é preciso levar a Cultura ao encontro das pessoas. O vale cultura vai ajudar, claro, mas a pessoa não vai buscar aquilo que não conhece e muita gente vai acabar usando esse valor apenas pra engordar a arrecadação de Transformers 8, Jogos Mortais 15, sei lá - nada contra ver filme em que psicopata retalha as pessoas ou que caminhão vira robô gigante, mas não dá pra ficar só nisso.
E se quisermos mai artistas, ajudar quem queira se tornar um. Só assim há um crescimento cultural no país. E pra quem estiver pensando que isso tudo é bobagem pode começar a repensar porque num país em que o nível cultural é nivelado pela TV e onde universitários tem dificuldade para interpretar um texto (escrever, então, nem se fala) é porque a coisa vai mal.
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