Miyamoto Musashi é uma espécie de Lampião japonês, figura histórica sobre a qual pairam tantas lendas que em certos casos fica difícil saber o que é real e o que é mito. Tal qual o cangaceiro, o espadachim teve vida errante à margem da lei e cheia de enfrentamentos que viraram matéria prima para livros,filmes,séries de Tv e quadrinhos.
Aqui é Takehiko Inoue quem parte da vida do "vagabundo" para contruir uma obra notável na forma de mangá. E que talento ele tem. Nas primeiras edições Musashi é retratado como um "animal selvagem", lutador sem técnica apurada mas muita ferocidade. A imagem acima,onde ele aparece descabelado e com as costas arqueadas, não podia ser retrato melhor.
Além do notável uso do hachurado para as sombras, salta aos olhos do leitor os rostos dos personagens, sua corporalidade e também detalhes como o modo realista com que os cabelos se desmancham ao vento (bem diferente do desnho padrão, aquele que se aprende em escolas e em que todo cabelo voa do mesmo jeito numa ventania)- acima um adversário de Musashi.
Um dos momentos mais impressionante da saga nos dá mostra justamente do pleno domínio de Inoue sobre os corpos de seu personagens. Um lutador decaptado não morre com uma expressão de horror(que coisa tão banal e comum seria!) mas sim com a expressão que detinha no exato momento em que fora atingido. Seu corpo,ainda que tombando, continua a correr na mesma direção, a cabeça,no entanto, salta no espaço. E a mão, detalhe dramático,continua a agarrar com força um saquinho que havia sido mostrado em close um quadrinho antes.
Publicado pela Conrad Editora em Vagabond 25, dezembro de 2003.